18 de dezembro de 2024

Falando ainda em Zip...

Que tal algumas regras opcionais?

 

MAIS UM PONTO FORTE

Sabedoria (ou astúcia) relaciona-se à acuidade mental, à percepção e à intuição. O personagem é capaz de notar detalhes que passam despercebidos pela maioria e até mesmo de compreender as reais intenções de outras pessoas.

 

MAESTRIA

Como explicado nas regras básicas de Zip, uma especialização permite que o personagem se saia melhor em um grupo de habilidades, reduzindo em um nível a dificuldade dos testes correspondentes. Contudo, tanto no mundo real quanto nos ficcionais há indivíduos que alcançam um grau de proficiência ainda maior em uma área específica de suas profissões.

Para refletir isso, personagens podem ser mestres em uma única habilidade contida em sua especialização (ex.: luta com espadas para um guerreiro; arqueria para um caçador). O efeito prático disso é reduzir a dificuldade em dois níveis (utilizando a regra opcional apresentada pelo autor de Zip, que introduziu os níveis de dificuldade muito baixo e muito alto).

Para um mestre, a dificuldade para acertar um ataque corpo-a-corpo será média se o alvo também for um mestre, baixa se for um especialista e muito baixa se for um não-especialista. Por outro lado, a dificuldade para um especialista atacar um mestre será alta, e para um não-especialista será muito alta.


EXPERIÊNCIA

O sistema básico não traz regras para evolução de personagens, o que é natural para um jogo minimalista. Não que tais regras sejam estritamente necessárias; os personagens podem fazer aliados e inimigos, adquirir riquezas, conhecimento e poder e até mesmo alterar sua natureza e modo de pensar.

Mas o mestre pode também permitir que, após completar uma sequência de aventuras (ou talvez um arco de desenvolvimento), o personagem:

  • acrescente uma habilidade que seja próxima à sua especialização (como arqueria, no caso de um guerreiro, ou luta com facas para um ladrão), ressaltando-se que pode demorar mais para dominar uma habilidade muito estranha à especialização;
  • torne-se um mestre em uma habilidade na qual já seja especializado (isso deve exigir muito mais tempo e certamente outro mestre disposto a ensinar);
  • seja capaz de suportar 1 ponto de dano adicional (talvez depois de sobreviver a várias batalhas e situações árduas).

11 de dezembro de 2024

Ave Imperator, morituri te salutant! RPGs na Roma Antiga

A estreia de Gladiador 2 faz reacender o interesse do público no Império Romano, em toda sua glória, violência e perfídia. Naturalmente, isso também vale para o nosso pequeno hobby; a seguir, alguns sistemas sugeridos para aventuras no maior império que o mundo já viu.

GURPS Império Romano: Suplemento lançado para a 3ª edição do famoso sistema genérico e universal (mas que pode ser convertido com facilidade para a 4ª edição), todavia pode ser encontrado em alguns sebos, livrarias e plataformas.

Trata-se da publicação mais completa disponível em português sobre a Roma Antiga, trazendo várias opções de personagens e descrições minuciosas de diversos aspectos do cotidiano do império.

Mas, caso você não faça questão de ter à mão regra para cavar buraco, todas as valiosas informações de ambientação podem perfeitamente ser utilizadas com qualquer outro sistema -- e eis a próxima sugestão...

ZIP: O Sistema Compacto de RPG foi um verdadeiro precursor dos jogos minimalistas no Brasil e, além de gratuito, é bastante adequado para cenários históricos (seu criador, Paulo Micchi, relata aqui sua experiência aliando RPG e educação).

Personagens em Zip possuem apenas duas características: um ponto forte e uma especialização.

Sobre os pontos fortes, Força é uma escolha natural para personagens que se envolvam mais em batalhas, assim como Agilidade para os tipos mais sorrateiros e Carisma para quem deseja liderar e influenciar os outros. Quanto à Vitalidade, basta lembrar que Roma era constantemente assolada por doenças, fora a possibilidade de envenenamentos!

Especializações comuns na Roma Antiga incluem guerreiros (legionários, mercenários, campeões tribais e, é claro, gladiadores, dentre outros), ladrões (de assassinos e espiões até saqueadores de tumbas, oportunidade não lhes falta) e caçadores (muito úteis em expedições e como batedores em campanhas militares).

Outras Especializações possíveis, com autorização do Mestre, são:

  • Aristocratas: Patrícios ou nobres de categoria inferior, que ocupam posições de destaque como senadores, comandantes, administradores etc. Especialistas em política, desfrutam de recursos, contatos, servos e escravos.
  • Áugures: Sacerdotes romanos versados na estimada arte da adivinhação (veja adiante).
  • Druidas: Sacerdotes celtas, podendo ser tratados como clérigos ou magos, caso o Mestre queira introduzir elementos sobrenaturais na campanha.

Os romanos eram extremamente supersticiosos e valorizavam sobretudo os augúrios, tratando diversos eventos como bons ou maus presságios. Áugures podem realizar um teste difícil para interpretar corretamente os sinais presentes no voo das aves ou nas entranhas de um animal sacrificado. Apenas um teste é permitido em cada situação e, mesmo com sucesso, respostas diretas são raras.

Embora Zip não conte com um bestiário, é fácil elaborar estatísticas de oponentes e NPCs em geral. Feras grandes como leões ou ursos, por exemplo, suportam pelo menos 5 pontos de dano, causam dano 3 e são especialistas em luta corpo-a-corpo e talvez em furtividade.

Fighting Fantasy: Não poderíamos deixar de indicar o sistema favorito do blog. Neste antigo sítio dedicado a FF há uma excelente adaptação para campanhas na Roma Imperial, completa com uma lista de origens para os heróis, regras alternativas de combate e até mesmo um extenso bestiário.


SUA CAMPANHA

Definido o sistema, escolha o tema principal da campanha, ou role um dado:

1 – Campanha militar: Os personagens participam de uma das inúmeras guerras travadas por Roma, seja do lado do Império ou de seus oponentes.
2 – Colônia: Roma enfrenta dificuldades para manter controle sobre um território conquistado; os personagens são incumbidos de reforçar o domínio imperial – ou estão a cargo de uma insurreição.
3 – Saqueadores: Desde as tumbas etruscas até os cairns na Britânia, há promessa de tesouros por toda a Europa e além, embora não sem perigos e horrores inimagináveis.
4 – Panis et circenses: Após serem escravizados, os personagens devem sobreviver como gladiadores até que conquistem sua liberdade, seja adquirindo glória suficiente ou por outros meios.
5 – Expedição: Os personagens encontram-se nos confins do Império, seja para fins de reconhecimento ou comércio, ou ainda para capturar bestas fabulosas para os jogos.
6 – Quando em Roma... Intrigas palacianas podem ser tão perigosas quanto o campo de batalha, como descobrirão os personagens, imersos nas disputas de poder da cidade imperial.

Em seguida, decida em que região e em qual dos conturbados períodos do Império Romano se passarão as aventuras (a fase que compreende as Guerras Púnicas, a da conquista da Gália ou a chamada Idade do Caos podem ser particularmente interessantes).

E, por fim, não se preocupe demais com precisão histórica -- isso raramente foi uma questão para Hollywood.

2 de dezembro de 2024

Conan, o Destruidor é a sua típica aventura de RPG

 

Lançado há quarenta anos, Conan, O Destruidor ainda carrega o fardo de ter sucedido ao filme mais emblemático do gênero de Espada & Feitiçaria.

Não que Conan, o Bárbaro seja uma adaptação fiel à obra de Howard; longe disso. No entanto, a visão singular de seu diretor, atuações efetivas, um roteiro pincelado com questões filosóficas e uma trilha sonora majestosa garantiram seu sucesso e inseriram o cimério em definitivo na cultura pop. 

Diante disso, é natural que, com um orçamento inferior, um tom camp e um protagonista mais "amigável", a sequência tenha gerado tanta decepção, ainda que tenha seus pontos fortes -- destaco os cenários elaborados, as composições mais uma vez a cargo de Basil Poledouris, um Schwarzenegger mais à vontade e Grace Jones roubando a cena.

E talvez pudéssemos ainda considerar uma outra perspectiva: Conan, o Destruidor é provavelmente a melhor retratação de uma sessão de RPG.

Trata-se de uma quest dividida em várias etapas (receber a missão, reunir o grupo, conseguir um item que dará acesso a outro item e daí por diante, até a inevitável traição e a reviravolta no final), reunindo vários dos tropos de fantasia (magia, heróis com papéis específicos como mago e ladrão, uma princesa em apuros, uma guerreira durona etc.).

Nenhum dos heróis se leva tão a sério assim, em especial Conan. A respeito, o saudoso crítico Roger Ebert observa que, "assim como James Bond, Conan agora fica um pouco alheio à ação incessante ao seu redor, e a observa com um certo prazer".

E não é exatamente essa a postura de cada um de nós, jogadores?

Observe as interações entre os membros do grupo, de espirituosas e cômicas até diretamente constrangedoras. Como ocorre quando os jogadores tentam estabelecer algum vínculo entre seus personagens, especialmente se impelidos pelo Mestre.

Falando ainda em Conan, não é estranho que logo ele, tão avesso à magia, aceite a proposta da Rainha Taranis para trazer sua amada Valeria de volta à vida, embora ela tenha conquistado seu lugar em Valhalla como uma Valquíria? A resposta é não, se bem sabemos como o jogador deve às vezes fazer concessões sobre como seu personagem age para enfim aceitar a quest.

Repare também na rápida sucessão de cenários pelos quais os heróis passam (o palácio, a torre de Amon-Thoth, o esqueleto do mamute, o templo...), quase como se fizessem um tour.

Esses elementos e alguns outros (e aqui entra novamente a trilha sonora) dão ao filme essa atmosfera de puro escapismo, em uma trama com adrenalina de sobra e pouco espaço para reflexão e profundidade.

Em resumo: Conan, o Destruidor é a sua típica aventura de RPG.