2 de dezembro de 2024

Conan, o Destruidor é a sua típica aventura de RPG

 

Lançado há quarenta anos, Conan, O Destruidor ainda carrega o fardo de ter sucedido ao filme mais emblemático do gênero de Espada & Feitiçaria.

Não que Conan, o Bárbaro seja uma adaptação fiel à obra de Howard; longe disso. No entanto, a visão singular de seu diretor, atuações efetivas, um roteiro pincelado com questões filosóficas e uma trilha sonora majestosa garantiram seu sucesso e inseriram o cimério em definitivo na cultura pop. 

Diante disso, é natural que, com um orçamento inferior, um tom camp e um protagonista mais "amigável", a sequência tenha gerado tanta decepção, ainda que tenha seus pontos fortes -- destaco os cenários elaborados, as composições mais uma vez a cargo de Basil Poledouris, um Schwarzenegger mais à vontade e Grace Jones roubando a cena.

E talvez pudéssemos ainda considerar uma outra perspectiva: Conan, o Destruidor é provavelmente a melhor retratação de uma sessão de RPG.

Trata-se de uma quest dividida em várias etapas (receber a missão, reunir o grupo, conseguir um item que dará acesso a outro item e daí por diante, até a inevitável traição e a reviravolta no final), reunindo vários dos tropos de fantasia (magia, heróis com papéis específicos como mago e ladrão, uma princesa em apuros, uma guerreira durona etc.).

Nenhum dos heróis se leva tão a sério assim, em especial Conan. A respeito, o saudoso crítico Roger Ebert observa que, "assim como James Bond, Conan agora fica um pouco alheio à ação incessante ao seu redor, e a observa com um certo prazer".

E não é exatamente essa a postura de cada um de nós, jogadores?

Observe as interações entre os membros do grupo, de espirituosas e cômicas até diretamente constrangedoras. Como ocorre quando os jogadores tentam estabelecer algum vínculo entre seus personagens, especialmente se impelidos pelo Mestre.

Falando ainda em Conan, não é estranho que logo ele, tão avesso à magia, aceite a proposta da Rainha Taranis para trazer sua amada Valeria de volta à vida, embora ela tenha conquistado seu lugar em Valhalla como uma Valquíria? A resposta é não, se bem sabemos como o jogador deve às vezes fazer concessões sobre como seu personagem age para enfim aceitar a quest.

Repare também na rápida sucessão de cenários pelos quais os heróis passam (o palácio, a torre de Amon-Thoth, o esqueleto do mamute, o templo...), quase como se fizessem um tour.

Esses elementos e alguns outros (e aqui entra novamente a trilha sonora) dão ao filme essa atmosfera de puro escapismo, em uma trama com adrenalina de sobra e pouco espaço para reflexão e profundidade.

Em resumo: Conan, o Destruidor é a sua típica aventura de RPG.

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